Minha entrevista para o blog Projeto Hero

Minha entrevista para o blog Projeto Hero

Dei uma entrevista para o blog Projeto Hero do Sandro Cavallote. Respondi 20 perguntas falando sobre o mercado de desenvolvimento de jogos no Brasil, cursos para entrar na área, jogos independentes, e outras coisas interessantes. Muito obrigado pela entrevista, Sandro!

UPDATE: Acho que o blog do Sandro saiu do ar, então publiquei abaixo a entrevista.

  1. Nome
    Bruno Cicanci

  2. Empresa em que atua
    RevMob Mobile Ad Network (http://revmob.com)

  3. Formação
    Bacharelado em Ciência da Computação e pós-graduado em Produção e Programação de Games

  4. Empresas onde já trabalhou
    Na área de jogos trabalhei quase 1 ano na Glu Mobile (http://glu.com) e 2 anos na Electronic Arts (http://ea.com), ambas em São Paulo.

  5. Qual seu jogo preferido
    Essa é uma pergunta muito difícil, é difícil até falar de um jogo preferido em uma determinada plataforma. Vou citar 5 jogos que foram muito importantes para minha carreira:
    Star Wars: Racer, Counter-Strike, Phantasy Star Online, Batman Arkham City e Jetpack Joyrider (não listei jogos das franquias Zelda, Mario, Sonic e Pokemon pois gosto de praticamente todos!).

  6. Do que se trata o site developergames.com ?
    Inicialmente era o meu portfolio, depois comecei a escrever sobre minhas esperiências e também sobre o que está acontecendo na indústria brasileira e internacional.

  7. Comente o passado/presente/futuro do mercado de games no Brasil
    Do ponto de vista de desenvolvimento de games, não existiu praticamente um passado, o presente está crescendo, e no futuro eu acredito que terá uma importância grande no mercado mundial, mas não acredito que será um boom como aconteceu em Montreal. Aqui as coisas são mais complicadas, como abrir empresa e até comprar licenças para desenvolvimento. Hoje temos muitos estúdios independentes batalhando no mercado, e acredito que o futuro da indústria será definido pelos desenvolvedores indies de hoje.

  8. Qual a relação entre arte e videogames?
    Video games é o conjunto de várias artes, o que, na minha opinião, faz o jogo ser algo grandioso. Jogos reúnem desenhos, animações, “filmes”, música, efeitos sonoros, efeitos visuais, roteiro, dublagem, localização, história, entre outras coisas. Tudo isso é arte, e tudo isso junto (e interação) é jogo, isso sem falar em programação, teste, hardware, marketing, e milhares de outras coisas que fazer parte de um jogo. Um jogo é um produto tão amplo e complexo que merecia mais respeito de que muitas outras formas de arte. A indústria de jogo fatura mais do que filmes e músicas juntos, mas não vemos muitos eventos e prêmios voltados para isso, ou com tanto destaque quanto merecem.

  9. O Brasil está preparado para tornar-se um desenvolvedor de jogos, ou apenas de mão de obra?
    O Brasil tem algumas pessoas talentosas que fazem de tudo para correr atrás de seus sonhos. Se você tirar essas pessoas esforçadas que realmente fazem jogos, o resto são apenas pessoas que acham que sabem fazer jogos ou entendem algo do assunto sem ter feito nada. Essas pessoas talentosas estão preparadas para criarem jogos incríveis (como já fazem), o resto não.

  10. Como é a cultura de games independentes no Brasil?
    Praticamente todos estúdios por aqui são independentes, não possuem um publisher ou alto investimento. Eu acho que essa é a cara das empresas daqui, serem indies. Agora o mercado consumidor é diferente, muitos jogadores tem pre-conceito de jogos indie e brasileiros, isso sem falar na pirataria.

  11. Há faculdades e cursos que atendam a expectativa dos estudantes?
    Depende. Existem cursos que atendem a expectativa dos estudantes sim, mas não existem cursos que atendam a expectativa do mercado. Desenvolver jogos não é fácil, principalmente por ser algo multi-diciplinar. Por isso, vale mais a pena um programador fazer um curso de Ciência da Computação ou Engenharia da Computação e depois se especializar em games do que fazer um curso de programação de games onde você vê tudo de forma introdutória. Existem muitos livros americanos execelentes para ensinar a desenvolver jogos, além de sites.

  12. Quais as principais diferenças entre um game indie e um da grande indústria?
    Um game indie é (geralmente) produzido sem investimento e sem um publisher para divulgar o jogo depois de pronto. Um game feito em uma empresa grande conta com investimento para ter uma equipe grande e tudo que precisar para desenvolver, além de uma equipe de marketing para divulgar o jogo e fazê-lo vender.

  13. Você acredita que há desenvolvedores que possam atender uma possível demanda por games de conteúdo nacional no Brasil?
    Acho que por causa do pre-conceito dos gamers não existe demanda por jogos com conteúdo brasileiro. Talvez apenas em jogos para público infantil vale a pena investir em conteúdo nacional. Porém, algo que todo jogo deve ter (e não é muito complicado de fazer) é a tradução para portugues também, mesmo que o idioma principal seja inglês, isso faz as pessoas jogarem.

  14. A estrutura dos videogames é montada principalmente em modelos americanos e japoneses. Você acredita que o Brasil poderia ter seu próprio estilo inovador, baseado em nossa cultura?
    O brasileiro é famoso por ser criativo, e isso é visto tanto na criação de um jogo quanto na criação de um estúdio e formação de equipes. Pelos custos (e retorno) nossa indústria sempre se dará bem desenvolvendo jogos independentes para plataformas como mobile e redes sociais, mas não há muito o que inovar na maneira de fazer.

  15. Como o governo tem se portado com relação ao segmento? Estão ajudando em alguma coisa?
    Bom, por mais que digam que existe investimentos e tudo mais, na prática os estúdios estão ralando sozinhos, e tudo que eles conquistam é apenas mérito deles.

  16. Plataformas como jogos para Facebook e mobile são boas portas de entrada para desenvolvedores independentes?
    Com certeza, pois o custo é muito baixo para desenvolver (considerando licenças e publicação, não a equipe), e existe muito conteúdo por ai para ajudar nisso.

  17. Há alguma empresa no Brasil que pode ser considerada relevante diante do contexto mundial do segmento?
    Existem algumas empresas que estão conseguindo muito destaque fazendo bons jogos. Não vou citar nomes para não cometer injustiças, mas posso dizer que também existem empresas que não acrescentam em nada. Essa matéria que saiu na folha tem algumas das principais empresas brasileiras: http://www1.folha.uol.com.br/infograficos/2013/08/19379-games-independentes-brasileiros.shtml

  18. Você acredita que, por mais inovadores que sejam, os desenvolvedores brasileiros tem noção das dificuldades e organização relacionadas ao empreendedorismo?
    Eu acredito que muitos desenvovedores brasileiros não se preocupam muito com isso, eles apenas se concentram em fazer o jogo. Em alguns casos, o jogo não é um sucesso por falta de planejamento e divulgação. Agora, quando existe a estrutura de empresa, ai sim alguém é responsável por isso.

  19. O que é mais importante para você na hora de desenvolver um game?
    Manter os pés no chão e ser humilde. Muita gente tem ideias boas e não consegue colocar em prática, outras tem ideias ruins e acreditam cegamente que seu jogo é o melhor do mundo. Começar com jogos simples também é o ideal, e nunca se achar melhor do que ninguém.

  20. Finalizando: você acha que o Brasil tem se preocupado com a TEORIA envolvendo a montagem de um game da mesma maneira que se preocupa com a PRÁTICA?
    Não, acredito que nos cursos os professores se preocupam demais com a teoria do que com a prática, principalmente por que a maioria deles nunca fez um jogo. Eu acredito que o mais importante para um profissional da área de games é ter um portfolio para mostrar, e não um diploma dizendo que fez um curso de games.

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