Entrevista: Rafael Martins - Technical Manager na Electronic Arts
O Rafael Martins, também conhecido como Alemão, tem alguns anos de experiência com desenvolvimento de jogos para dispositivos móveis. Começou a trabalhar como programador em jogos J2ME e BREW na Skyzone.
Entrou na Electronic Arts, pouco tempo depois do escritório da EA Mobile ser aberto em São Paulo. Na EA viu a transição dos jogos simples para celulares, para jogos muito grandes para smartphones e tablets. Atualmente é Technical Manager, e meu chefe!
Ele é formado em Sistemas de Informação na Mackenzie, onde atualmente está cursando um mestrado em Engenharia da Computação. Além disso, também já foi jogador profissional de basquete, e atualmente joga no time do Clube Circulo Militar de SP, é torcedor do Dallas Mavericks. Nem todo programador é sedentário! hahaha
Na entrevista abaixo, ele conta um pouco da transição das tecnologias para jogos em dispositivos móveis e comenta muitos aspectos técnicos sobre o desenvolvimento de jogos para mobile.
Como surgiu o interesse em trabalhar com jogos?
O interesse em trabalhar com jogos surgiu no começo da adolescencia. Era atleta e estudante e já pensava em estudar ciencia da computação para poder trabalhar com aplicações multimídia e jogos. Acabei me tornando atleta profissional, mas no meio da graduação acabei parando com o basquete, trabalhando um pouco em T.I. e depois consegui uma vaga em uma empresa de jogos coreana, a Skyzone.Seu primeiro contato profissional com jogos foi na Skyzone, com J2ME e BREW, certo? Como era trabalhar com jogos naquela época?
O meu primeiro contato profissional foi na Skyzone sim. Trabalhavamos basicamente com J2ME, Brew e Sidekick. Naquela época o processo de desenvolvimento era bem complicado, se formos comparar com o que rola atualmente. Pouca memória, centenas de dispositivos e muita fragmentação, o que dificultava e atrasava muito a produção ou porting de um título. Contudo, tambem era desafiador poder trabalhar em algo tão limitado.Depois da Skyzone, você entrou na Electronic Arts, para trabalhar com dispositivos móveis. Como foi entrar para uma das maiores empresas de jogos do mundo?
Parece meio clichê, mas sempre que jogava alguns jogos da EA nos consoles, pensava em como era trabalhar em uma empresa como essa. Acho que todo mundo que gosta de jogos, deve pensar. A EA é uma empresa que muita gente conhece, mesmo os não fanáticos por jogos, por causa das marcas que a empresa detém. Com certeza foi emocionante começar a trabalhar aqui, ainda mais com um grupo que já vinha se consolidando em tecnologia móvel em São Paulo. Unindo isso ao fato de ser a EA, só tenho que agradecer a oportunidade.Na Electronic Arts você viu a transição de J2ME e BREW para Android e iOS, entre outras tecnologias. Você acha que a indústria de games cresceu com essas novas tecnologias?
Sem dúvida a indústria cresceu demais com a chegada de novas plataformas móveis. Fora isso, houve um crescimento altíssimo no número de empresas que fornecem tecnologia para a fabricação desses dispositivos, assim como empresas que desenvolvem jogos nessa camada. Já temos quase 1 celular por habitante no mundo, a indústria só tem a crescer com a quantidade de pessoas que ela pode atingir.Jogos para dispositivos móveis estão cada vez mais próximos de jogos de console e computador. Você acha que jogos grandes poderiam ser portados para mobile? Quais seria as dificuldades técnicas?
Sou suspeito para falar (risos). Se pudesse só faria porting de jogos de computador para dispositivos móveis. Com certeza muitos jogos hoje em dia podem ser portados para celulares com grande capacidade, como o iPhone e alguns modelos Android. Acredito que a dificuldade técnica envolveria todas as vertentes da produção, uma vez que nem todos os jogos utilizam a mesma tecnologia, padrões de modelos 2D e 3D, formatos de áudio, entre outros. Empresas grandes dispõe hoje de tecnologias portadas de console para suprir o mercado móvel, acho que isso deve chegar a desenvolvedores independentes ou pequenas empresas.Quais são os maiores problemas relacionados a programação que normalmente temos no desenvolvimento de jogos para dispositivos móveis?
Dependendo do tamanho do projeto ou o tipo de título que voce trabalha, difícil citar problemas específicos (sempre aprendemos algo). Acredito que os maiores problemas na área de programação ainda são referentes à memória e render. No passado isso era muito agravante, mas o fato de os aparelhos terem cada vez mais capacidade, faz com que tenhamos menos problemas como estes ou problemas semelhantes aos consoles ou consoles portáteis. Acredito que o Game Designer tenha um trabalho bem difícil tambem, pois precisa limitar sua área útil e proporcionar uma boa jogabilidade.Como você acha que os jogos para mobile serão daqui pra frente?
Acredito que o futuro seja a integração dos jogos móveis com outros dispositivos, como TV interativa, consoles e web. Acho que a união dessas tecnologias fará com que cada dispositivo tenha seu meio de interação especial e faça dos jogos mais atrativos para os jogadores casuais. Acredito tambem que para os gamers hardcores, haverá umaaceitação maior, tendo em vista o crescente aumento de performance dos celulares atuais.O que você acha do mercado de desenvolvimento games no Brasil?
Acho que o mercado de desenvolvimento ainda tem muito o que produzir. As maiores empresas situadas no país ainda são as filiais de empresas internacionais. Acredito que um foco maior das universidades do país na área somada à incentivos do governo podem ajudar as empresas nacionais a crescer e começarem a fazer algo mais parecido com o mercado lá fora.Atualmente você está fazendo um mestrado em Engenharia da Computação. Seus projetos no curso são relacionados com jogos?
Tento fazer meus projetos dentro dos créditos envolvendo jogos, seja qual for a disciplina que estou cursando. Minha tese não está totalmente definida, mas meu foco será jogos móveis e educação usando algum sistema especialista. (Em breve saberei)Na sua opinião, quais são os cursos mais indicados para quem quer trabalhar com programação de jogos?
Acredito que para trabalhar com programação, os cursos de Ciência e Engenharia da Computação e de Sistemas de Informação, podem ajudar o aluno há enfrentar melhor os problemas relacionados a jogos. Muitas pessoas que converso e não são da área, muitas vezes não fazem idéia da complexidade de se criar um jogo.
As graduações em Jogos do país tambem são recomendadas, mas poucas tem o foco total em programação (apesar de conhecer muitos programadores bons vindos de cursos de Jogos e desculpe se desconheço alguma graduação com esse perfil).Alguma dica para quem quer ser um desenvolvedor de jogos?
Acho que o primeiro passo é ter foco e pé no chão. Em algumas visitas em universidades e tambem papeando com entusiastas, pude perceber que o foco em fazer jogos AAA é muito grande (e não é exagero, coisas do tipo: Vou entrar na faculdade e fazer Gears of War).
Primeiro conheça o mercado, os desenvolvedores, veja se as etapas de produção de um jogo atendem exatamente suas expectativas. Conheça as disciplinas envolvidas e tente se especializar em algo que o mercado nacional precisa primeiramente e depois quem sabe, tentar uma vaga fora (se for um sonho talvez).
E a última dica é ter sempre um portfólio em mãos, seja qual for sua disciplina de atuação (sim, programdores precisam de portfólio).
Alemão, muito obrigado pela entrevista! Espero que tenham gostado, mais entrevistas com pessoas que trabalham na indústria de jogos estão por vir!