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Minha participação no Ludum Dare #58

· 6 min para ler

Apesar de participar da game jam Ludum Dare há mais de uma década, ainda continuo aprendendo como finalizar um projeto em um tempo tão curto.

Lembro da primeira vez que participei de uma game jam, lá em 2015. Na época eu já trabalhava na indústria de jogos há cerca de cinco anos, com nomes como Glu e Electronic Arts no currículo, mas as game jams sempre me ensinaram algo novo sobre desenvolvimento de jogos.

Como mencionei no meu artigo anterior, decidi participar da última edição da game jam Ludum Dare. Desta vez, o tema escolhido pelos participantes foi Collector.

Conceito do jogo

Assim que o tema foi revelado, começou a contagem regressiva de 48 horas. Collector foi o tema mais votado de uma lista que os participantes geram e votam durante a semana anterior à game jam. Como essa lista é divulgada antes, costumo me preparar pensando no que poderia fazer com base nas 16 possibilidades.

Minha ideia original era criar um jogo roguelike em que o jogador coletaria cartas deixadas pelos inimigos e as usaria para melhorar seus poderes e habilidades. Antes de cada novo nível, o jogador escolheria algumas das cartas coletadas e usaria as habilidades dessas cartas para avançar e conquistar mais cartas ao final.

Como dá pra ver na imagem abaixo, rascunhei a ideia no papel, listando tudo o que veio à cabeça, sem pensar muito na viabilidade naquele momento. Esse processo ajuda bastante a tirar as ideias da cabeça e colocá-las no papel, deixando tudo mais claro e fácil de visualizar.

Do papel ao Unity

Assim que a ideia ficou um pouco mais concreta, comecei a desenvolver na minha game engine de escolha: Unity. Uso o Unity desde 2009, quando a versão 3.0 foi lançada, então é sempre minha escolha segura.

Meu conselho pra quem quer participar de uma game jam, seja iniciante ou profissional, é: use uma engine que você já conheça e tenha alguma experiência. Fazer um jogo em tão pouco tempo, com um tema que você só descobre na hora, já é difícil o bastante — então é importante eliminar qualquer complicação desnecessária do processo.

Costumo preferir fazer jogos 2D nas game jams, porque é mais fácil pra eu desenhar algo simples e colocar no jogo (até porque não tenho nenhuma habilidade artística). Porém, dessa vez decidi fazer um jogo 3D. Sabendo das minhas limitações, optei por usar apenas objetos geométricos básicos do Unity e criar materials diferentes pra mudar as cores. Também adicionei alguns spotlights nos objetos pra dar mais destaque.

Comecei criando uma cena de testes — algo que sempre faço pra experimentar ideias. Na imagem abaixo dá pra ver a cena: basicamente um plane servindo de chão e quatro cubos esticados formando as paredes. O jogador é um cilindro amarelo e os inimigos são cubos vermelhos e azuis — tudo bem simples, pra eu conseguir focar na jogabilidade.

Conforme comecei a programar, também fui ajustando a ideia e reduzindo bastante o escopo, pra garantir que conseguiria terminar algo dentro do prazo.

A jogabilidade mudou pra algo mais simples: inimigos surgem na cena e perseguem o jogador. Quando colidem, ambos causam dano ao longo do tempo até que um deles morra ou o jogador se afaste.

Mantive o conceito de coletar cartas, mas na nova versão do jogo os inimigos deixam cair cartas das suas respectivas cores (que chamei de cartas de Fogo e Gelo). Quando o jogador coleta uma carta, sua vida é restaurada para 5 pontos.

Esse é o core loop do jogo: o jogador precisa atacar os inimigos, mas também fugir quando mais de um começa a persegui-lo. Os inimigos vermelhos e azuis têm valores diferentes de ataque, vida e velocidade — assim como o jogador.

A imagem acima mostra a versão final que fiz upload no site do Ludum Dare dentro das 48 horas. Não tive muito tempo pra balancear o jogo, então as partidas acabaram ficando mais curtas do que eu esperava se acumular muitos inimigos na tela.

Apesar de o resultado final ser bem mais simples do que o conceito inicial, consegui desenvolver um jogo durante o fim de semana. Por causa dos inimigos e cartas vermelhas e azuis, o nome que escolhi foi Fire & Ice.

Lições de uma game jam

Depois de mais uma game jam, acho que meus conselhos e aprendizados continuam praticamente os mesmos das participações anteriores. Aqui vão algumas coisas que fiz e que funcionaram bem:

  • Pense em ideias de jogos com base na lista de possíveis temas antes da game jam começar.

  • Use uma game engine que você já conheça e tenha experiência.

  • Faça rascunhos da sua ideia pra ter uma visão mais clara do que vai criar.

  • É normal mudar o conceito do jogo depois que começar, mas tente fechar o core loop o quanto antes pra poder melhorar o jogo a partir daí.

  • Exporte o jogo para web (se possível), assim outras pessoas conseguem jogar sem precisar fazer download.

E aqui vão as coisas que fiz errado e quero evitar da próxima vez:

  • Ter que criar tudo do zero em 48 horas já é difícil o bastante, então fazer um jogo 3D não ajuda. Na próxima, vou ficar no 2D — é mais fácil deixar visualmente agradável e com menos problemas de colisão.

  • Falando em colisão, tive vários problemas que só percebi depois de enviar o jogo. Usando 2D, boa parte disso nem teria acontecido.

Como sempre, participar da game jam foi uma ótima experiência. Sou um grande fã do Ludum Dare e fico feliz de ter algo completo o suficiente pra compartilhar. Ainda estou aprendendo a fazer melhor a cada edição, e tenho certeza de que na próxima vai sair ainda melhor.

Você pode jogar Fire & Ice aqui. O código-fonte está disponível no meu GitHub (um dos requisitos do modo Compo).

Se você perdeu esta edição do Ludum Dare, recomendo ficar de olho na próxima, que vai acontecer em abril de 2026.