Entrevista: Mariana Boucault - Game Designer na Insolita Studios

Entrevista: Mariana Boucault - Game Designer na Insolita Studios

A Mariana Boucault trabalhou comigo na Glu Mobile, era foi QA em alguns projetos de porting de jogos em J2ME que participei. Ela também foi QA em jogos de iOS desenvolvedos no estúdio da Glu Mobile em São Paulo, como o Circus City (vídeo na entrevista abaixo).

Além de achar bugs nos jogos e me fazer corrigir, a Mari estudava na Anhembi Morumbi para se tornar uma Game Designer. Enquanto estava na faculdade, ela participou do desenvolvimento de alguns projetos de jogos, os vídeos de dois desses jogos estão na entrevista abaixo. Após se formar, Mari entrou na Insolita Studios como Game Designer, e hoje trabalha para criar mecânicas bem legais para os jogos do estúdio.

Por ser uma Game Designer, a entrevista teve algumas perguntas parecidas com a entrevista do Nicholas, mas suas respostas e experiências são únicas, por isso vale a pena conferir um pouco da trajetória de uma das poucas Game Designers do Brasil. Ah, não deixe também de conferir seu portfólio!

Por que você decidiu ser uma Game Designer?
Essa escolha na verdade foi muito sem querer, eu nem sabia que existia essa profissão alguns anos atrás. Eu sempre joguei vídeo games, desde que me tomo por gente, e já tinha decidido que ia trabalhar na área de qualquer jeito. Na hora de prestar vestibular tinha me aplicado em vários tipos de engenharia, porque na inocência, achava que das opções era a melhor que tinha. Até achar um panfleto da Anhembi com o curso de Design de Games. Na hora que eu vi, já tinha decidido que ia fazer, mesmo tendo passado nas engenharias. Devo ter deixado algumas pessoas decepcionadas com isso, mas agora não consigo me ver fazendo mais nada diferente.

Ano passado você se formou em Design de Games na Anhembi Morumbi. Você achou que esse curso te preparou para ser uma Game Designer?
Estudar na Anhembi com certeza mudou meu jeito de ver game design, mas como toda teoria, a prática é completamente diferente. Acredito que o que mais fez diferença na Anhembi foram os projetos interdisciplinares, uma série de projetos que nos fizeram experimentar na prática o que é fazer um jogo, mas sempre temos que estudar porque é uma área que muda muito rápido.

No curso você participou do desenvolvimento de jogos bem legais, como “The Eerie Crooked Show” e “Gedanken”. Como foi desenvolver o Game Design desses jogos?
Como a equipe que estávamos trabalhando nesses dois projetos era pequena (4 pessoas), o game design inicial foi feito em conjunto, cada um dos membros trazendo idéias de como a mecânica básica tinha que funcionar, levando em consideração os pontos fracos e fortes da equipe. Depois de decidido, cada um foi para sua área e eu fiquei responsável para resolver os detalhes que ainda não haviam sido solucionados, também ajudando na parte de level design.

Sua carreira na área de jogos começou na Glu Mobile como QA. Trabalhar como QA, testando jogos bem diferentes, te ajudou a aprender sobre Game Design também?
Trabalhar como QA (Quality Assurance, para quem não sabe) fez com que eu tivesse a chance de testar outros jogos que eu normalmente não jogaria, no ponto de vista gamer, e isso me ensinou como é importante não ter preconceitos contra outros gêneros de jogos. Você pode aprender muito com eles e usar esse conhecimento para construir jogos mais ricos no futuro.

Muita gente acha que testar jogos é um trabalho fácil, mas sabemos que não é bem assim. Quais são as maiores dificuldades em testar um jogo?
É, testar jogos não é “ficar jogando joguinho” o dia todo. Eu diria que a parte mais difícil de testar um jogo é manter o foco depois da 300ª vez que está testando a mesma fase para mesmo assim encontrar um bug e reportar ele corretamente. É um trabalho que precisa ter muita paciência também, porque muitas vezes a versão do jogo vem quebrada e tudo que você testou já não é mais válido e você tem que recomeçar.

Após se formar, você saiu da Glu Mobile e entrou na Insolita como Game Designer. Como foi conseguir uma vaga tão disputada por diversos outros alunos do seu curso?
Foi uma grande sorte na verdade! Conseguir vaga de game designer no Brasil, ao contrário do que a mídia tradicional diz, é extremamente difícil. Se você quer realmente entrar na área é mais fácil seguir na parte de programação ou arte. Eu fiquei MUITO feliz quando tive a resposta (ainda por cima foi no meu aniversário!), foi aquele momento que todo o esforço valeu a pena.

O trabalho de um Game Designer é exatamente como você imaginava no início do curso ou sua visão mudou agora que está formada e trabalhando na área?
Um pouco dos dois, estou criando jogos como achei que faria, sem necessariamente mexer em código e arte, mas é muito mais complicado do que eu achei que seria. Envolve muita criação de sistemas, vários fluxogramas, decisões sobre o que colocar ou não no jogo e até equações de segundo grau que podem salvar ou afundar o jogo.

Agora que está formada, você pretende fazer algum outro curso de especialização?
Por enquanto não, estou mais focada em ter um pouco mais de experiência no desenvolvimento prático de jogos para quem sabe no futuro fazer uma pós ou mestrado no exterior e aprender novas técnicas.

Como você vê o mercado de desenvolvimento de jogos no Brasil?
O desenvolvimento de jogos no Brasil ainda é jovem e muito pequeno em comparação com outros países que já estão instalados. Boa parte das empresas faz advergames, jogos educacionais e mobile. Por enquanto acho que estamos longe de se tornar uma indústria de AAAs, mas por outro lado, existem muitas pessoas talentosas que estão correndo atrás e fazendo seus jogos acontecerem.

Quais jogos, livros e Game Designers que influenciaram sua carreira?
Quanto a jogos, é difícil deixar conciso, diria principalmente a série Tomb Raider, a maior parte dos jogos do Mario, Resident Evil, Portal, Silent Hill, Full Throttle, Claw e Chips Challenge. Entre os diversos designers estão Toby Gard, Shigeru Miyamoto, Kim Swift e Tim Schafer. E livros, tem alguns da área, como Theory of Fun e Level UP!, e outros nem tão ligados, mas não menos importantes, como um de psicologia (Flow) e um de orientação a objetos (OOA&D).

O que você recomenda para iniciantes que querem seguir nessa profissão?
Além de estudar bastante e jogar com olhos críticos, fazer um projeto por fora, para ter experiência prática, vai fazer bastante diferença. É bom começar desde cedo também pensar em uma das diversas áreas que o desenvolvimento de jogos tem e focar em uma delas, e dar o máximo de si para aprender sobre ela. Por exemplo, se você quer ser level designer, você pode baixar e treinar seus levels num editor de level de jogo como source e udk, se você quer ser designer, tente quebrar um jogo que você conheça e reproduzi-lo e melhorá-lo, e por aí vai.

Mari, obrigado pela entrevista!

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