Entrevista: Saulo Camarotti, CEO da Behold Studios

Entrevista: Saulo Camarotti, CEO da Behold Studios

entrevistei alguns profissionais da área de desenvolvimento de jogos aqui no blog, e sempre desenvolvedores que trabalham ou trabalharam em grandes empresas. Pela primeira vez entrevistei um desenvolvedor independente brasileiro, um dos criadores de Knights of Pen & Paper e Chroma Squad, Saulo Camarotti.

Eu já conhecia o trabalho do Saulo por jogar Knights of Pen & Paper, comprei logo que saiu para iOS e me diverti bastante. Um tempo depois, no mês passado, assisti uma palestra do Saulo no Unite Brasil, e fiquei muito impressionado com seu relato de como a Behold Studios nasceu, e o sucesso do Chroma Squad no Kickstarter. Fique feliz por ele ter aceitado fazer a entrevista, e o resultado ficou muito bom!

Bruno Cicanci: Como e quando você teve interesse em desenvolver jogos?

Saulo Camarotti: Aprendi a programar em Basic com 12 anos. E para uma criança, com uma ferramenta incrível que é esta de programar, eu quis fazer aquilo que eu gostava. Então comecei a fazer jogos. Também sempre que jogava, sempre entrava numa de “como vou melhorar esse jogo” ou “podia ser assim, que ia ser melhor”. Essas duas coisas juntas me fez caminhar pra onde estou hoje.

BC: Quais foram seus primeiros contatos com desenvolvimento de jogos?

SC: Mexia muito com Game Maker, RPG Maker, e 3D Game Studio. Estas ferramentas me ajudavam a fazer protótipos e comecei a aprender como se faziam jogos. Na época da adolescência, eu fazia de tudo, desenhava, programava, mas depois, entrei no curso de Ciência da Computação, e me especializei no que faço melhor.

BC: Como nasceu a Behold? Quais eram seus objetivos no começo?

SC: Durante o curso de Ciência da Computação, na Universidade de Brasília, fui desenvolvendo alguns trabalhos de pesquisa com colegas e professores na área de games. Já em 2008 fiz meu primeiro plano de negócios, de como seria a minha empresa, e em 2009 abri na incubadora do CDT/UnB. O objetivo no começo era fazer uma empresa de Advergames e Serious Games, mas depois mudamos o nosso foco, e hoje tem tudo dado muito mais certo.

BC: Knights of Pen & Paper foi um grande sucesso, principalmente pela sua temática de RPG de mesa. Este jogo abriu muitas portas para a Behold?

SC: Sim! Hoje temos muitos jornalistas acompanhando nosso trabalho, temos publishers e canais de distribuição atentos nos nossos jogos, como Steam, Sony e Microsoft. Então, o Knights foi fundamental nessa jornada.

BC: Trabalhar com uma publisher de fora, a Paradox, foi uma boa experiência?

SC: A Paradox é Sueca. Foi muito bom, aprendemos muito com eles. E ainda estamos trabalhando com eles. Mas no nosso novo jogo Chroma Squad resolvemos atuar de forma mais independente, e lançarmos por conta própria.

BC: Como nasceu a ideia de colocar o Chroma Squad no kickstarter? Vocês ficaram surpresos com o sucesso?

SC: Nós queríamos testar o conceito do jogo, antes de mergulhar no projeto. Precisávamos saber se a temática ia agradar o público. Então o Kickstarter foi fundamental pra criar essa comunidade por trás do jogo. Nós achamos sensacional o retorno que deu, tanto financeiro, quanto de ideias e pessoas envolvidas.

BC: Como você vê o mercado para os desenvolvedores de jogos indies no Brasil?

SC: A indústria de jogos no Brasil está muito bem. Agora precisamos entender que fazer jogo é ralação e empenho, e muita vontade. Não existe caminho fácil. Se comparado aos internaconais, inclusive alunos e desenvolvedores indies, nosso trabalho aqui ainda é muito ruim. Mas eles já estão há 20 anos na nossa frente, então, fica fácil de entender o que está faltando aqui: é experiência e vivência.

BC: Do ponto de vista técnico e criativo, você acha que ser um indie no Brasil é muito diferente do que ser um indie fora daqui?

SC: Nenhuma diferença. Talvez nos EUA os indies tenham mais acesso aos eventos e pessoas, o que facilita um pouco. Mas se o indie aqui participa dos eventos nacionais, como SBGames e BGS, é possível entrar diretamente em contato com grandes publishers e canais de distribuição também, e alavancar um bom jogo. Mas o que falta no brasileiro não são oportunidades de negócio, e sim, ainda falta fazer bons jogos. O Knights é um bom jogo, na nossa opinião, e ele se alavancou como nenhum outro jogo brasileiro, pois tivemos uma viralidade muito boa de divulgação. No fim das contas é só o jogo que importa, não o plano de negócios ou o acesso a dinheiro.

BC: Qual conselho você daria para quem quer abrir uma empresa de jogos?

SC: Não abre uma empresa ainda não. Faça jogos, crie ideias, jogue fora ideias, amadureça equipes, descarte membros da equipe, encontre novos membros de equipe, aprenda a desenvolver boas mecânicas, desapegue-se, erre, faça de novo, viva. Quando um jogo ficar pronto e polido, lance-o no mercado, sem mesmo ter CNPJ. E quando algum jogo tiver um retorno consideravel, pelo menos uns R$ 1 mil por mês, aí, sim, abra uma empresa, contrate um contador e oficialize a budega toda.

BC: E qual dica você daria para quem quer começar a estudar desenvolvimento de jogos, mas ainda não se decidiu por programação, arte ou design?

SC: Eu comecei fazendo um pouco de tudo, e aprendi a descobrir qual seria o meu talento verdadeiro. Apesar de amar arte, e ficar vislumbrado com animações 2D e 3D, sei que essa admiração não me torna um bom artista. Mas descobri que sou excelente programador, e quando comecei a estudar me encontrei, pois sei que estou usando meu talento nessa tarefa de codificar. Acho que todo mundo tem que descobrir seu verdadeiro talento ou vocação, e não simplesmente ir atrás do que gosta mais. Quando você se encontra, o gostar também aparece. E melhor de tudo, você começa a fazer o que lhe cabe fazer.

Com relação ao estudo, eu aconselho fazer cursos específicos, e evitar os cursos genéricos. Por exemplo, é melhor fazer Ciência da Computação e aprender verdadeiramente a programa, do que fazer Jogos Digitais, aprender de tudo e sair sem saber fazer nada. Também vale para Arte Digital, Desenho Industrial, Artes Plásticas, etc. Agora, se o talento é desenvolver narrativas, mecânicas, entender balanceamento, e ter a visão do todo, acho que o curso de Design de Jogos pode ser muito bom também. O Aluno faz o Curso.

Obrigado Saulo, muito sucesso para vocês da Behold Studios! Acompanhem a página do Facebook deles para saber mais novidades sobre os seus projetos.

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